Só agora reparei que os incêndios a que o Henrique se referia começaram em 28/11/2007, com 34 ocorrências, 186 bombeiros e 53 carros. E terminaram em 16/12/2007, com 54 ocorrências, 345 bombeiros e 89 carros.
Como o "Incêndio Florestal no Lugar de Vilarinho (Serra Amarela) - Campo do Gerês - Terras de Bouro, propriedade ou administrado por essa Associação [AFURNA] deflagrado pelas 19H50 do dia 15/11/2007 e extinto pelas 17H15 da
tarde do dia seguinte" (segundo ofício da Polícia Judiciária), sem indicação do número bombeiros e de carros - elementos importantes a ter em conta no "Circo do Fogo em Portugal" - é natural que o Henrique não perceba o que é que o meu "post" tenha a ver com o seu.
Também não sei onde é que o Henrique foi buscar a peregrina ideia de que "os putativos donos de um terreno achem que o que ocorre nesses terrenos não é nada com eles mas sim e apenas com o Estado...". Pelo menos, com os efectivos donos do Monte de Vilarinho isso não tem acontecido, como é sobejamente conhecido. O que não admitimos é que o Estado contabilize os nossos 2000 hectares de serra para ir buscar Euros a Bruxelas e, depois, os utilize, sabe-se lá por onde... Pela nossa parte, não temos qualquer problema em usar exclusivamente recursos próprios. Só que, nessa altura, teremos que continuar o corte dos nossos carvalhos e pinheiros, na Mata da Albergaria, como já, em tempos, o fizemos, com os tribunais a nos dar razão e as entidades oficiais a negociar conosco. Preferimos, por enquanto, continuar à espera do cumprimento do acordo, por parte dessas mesmas entidades.
Quanto à sementeira após o fogo, há critérios e critérios... Na vizinha Galiza, depois do fogo de 2006, começaram imediatamente a preparar o terreno para a reflorestação, como se pode ver em "La Voz de Galicia", na pag. 5 do Comunicado d'AFURNA (http://afurna.no.sapo.pt/INCENDIO_VILARINHO.pdf).
De qualquer forma, mais de um ano volvido sobre o incêndio de 2006, em Vilarinho, não é propriamente "logo após o fogo". E, quanto ao incêndio do passado dia 15 de Novembro, recordo que o último aí ocorrido foi já no longínquo ano de 2000. Dando-se a casualidade de, em finais de 2004, a AFURNA ter apresentado exactamente para essa área um novo projecto, no âmbito do Programa POAGRIS, para a “prevenção de riscos provocados por agentes abióticos”, o mesmo é dizer, para a prevenção de incêndios. Pelo que viemos recentemente a saber, as verbas para aí previstas, com base nessa área e da de outras zonas de montanha, foram aplicadas para aumentar a frota dos "todo-o-terreno" de três autarquias do Distrito de Braga.
Por outro lado, se, como se diz no relatório citado pelo Henrique, que no incêndio ocorrido "... na Costa do Altar, não se verificaram grandes perdas em termos de valores naturais, uma vez que praticamente arderam matos rasteiros de montanha e a reduzida zona de carvalhal que ardeu foi percorrida com um fogo de superfície lento que não causou perdas
significativas, estando neste momento a zona a recuperar bastante bem", não se percebe porque é que lá andaram, durante vários dias, 2 aviões, 2 helicópteros, centenas de bombeiros e soldados do exército português. Como não se entende que a cena se tenha repetido este ano, como já acontecera em 2000 e em 2004. Se aquilo é terreno sem interesse "em termos de valores naturais", porque é que não se deixa arder livremente? Será apenas por uma questão de facturação? Se assim é, desde já se convida quem quiser para, todos os anos, se ir divertir a deitar fogo no Monte de Vilarinho da Furna. Mas dispensem os bombeiros, os aviões, os helicópteros, o exército, os relatórios de "entidades externas", os do costume, que por lá têm andado a facturar à nossa custa. Os contribuintes, com certeza, agradecerão.
Como ainda não obtive resposta, mantenho as questões anteriores: "Já agora, alguém me pode esclarecer se foi plantada uma única planta, ou semeada uma única semente, na Peneda-Soajo-Amarela-Gerês, depois dos incêndios do ano passado, que tantos altos dirigentes da nação lá levaram apenas para fazer turismo? E onde param as verbas da pseudo ecotaxa sobre os combustíveis, criada em 2004, para a reflorestação do país?"
Cumprimentos.
Manuel Antunes
----- Original Message -----
From: "henrique" <as1075017@sapo.pt>
To: "'Manuel Antunes'" <mantunes@mail.telepac.pt>; "'Lista Ambio'"
<ambio@uevora.pt>
Sent: Tuesday, December 18, 2007 9:38 AM
Subject: RES: [ambio] fogos
Não percebi o que tem o meu post com este de Manuel Antunes.
Apenas me espanta que os putativos donos de um terreno achem que o que
ocorre nesses terrenos não é nada com eles mas sim e apenas com o Estado
(deve ter sido distracção minha mas não vi informação sobre quantos dos mais
de cem donos do terreno estiveram envolvidos na protecção da sua
propriedade).
Quanto às sementeiras e etc., após fogo.
Posso saber essa informação (que agora não sei) mas devo dizer que é
genericamente uma asneira andar a fazer florestações logo após o fogo. O que
é normal, sobretudo em áreas cuja vocação não é a produção de lenho, é
deixar funcionar a regeneração natural e só após a avaliação do grau de
recuperação intervir, se for caso disso (o que duvido que seja o caso).
No site do icnb (www.icnb.pt) pode ser consultada a página
http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007/O+ICNB/Estudos+e+Projectos/ que
contém a totalidade do relatório sobre fogos de 2006 em áreas protegidas.
Nesse relatório pode ler-se a síntese em relação ao PNPG:
"Parque Nacional da Peneda-Gerês
Em termos de Conservação da Natureza, destacam-se os incêndios ocorridos na
Área de Ambiente Natural, sobretudo o incêndio ocorrido no dia 14 de Julho
na Costa do Altar, concelho de Terras de Bouro e o incêndio de Carralcova,
ocorrido no dia 6 de Agosto, que atingiu o vale do Ramiscal, no concelho de
Arcos de Valdevez. No primeiro, na Costa do Altar, não se verificaram
grandes perdas em termos de valores naturais, um vez que praticamente
arderam matos rasteiros de montanha e a reduzida zona de carvalhal que ardeu
foi percorrida com um fogo de superfície lento que não causou perdas
significativas, estando neste momento a zona a recuperar bastante bem. O
incêndio de Carralcova, que atingiu o Ramiscal, traduziu-se numa perda mais
significativa em termos de valores naturais, uma vez que o fogo consumiu
algumas zonas do bosque do vale do Ramiscal composta, quase praticamente por
carvalhos e azevinhos. No entanto, a maioria do bosque não foi atingida,
sendo previsível que, a par de outras zonas, recupere parcialmente, num
curto período de tempo. Algumas funções ecológicas demorarão mais tempo a
recuperar."
Até hoje este relatório não foi contestado mas estar-se-á sempre a tempo de
corrigir o que nele estiver efectivamente mal. Algures existe um relatório
de acompanhamento da recuperação no Ramiscal que posso tentar obter para
esclarecer o que puder ser esclarecido (o relatório é feito, se bem me
lembro) por entidades externas).
Henrique Pereira dos Santos
Acabo de responder a um ofício da Polícia Judiciária que, simpaticamente, pedia informações à AFURNA sobre um incêndio que deflagrou no Monte de Vilarinho "pelas 19H50 do dia 15/11/2007 e extinto pelas 17H15 da tarde do dia seguinte". Terão ardido mais cerca de 500 hectares, a juntar aos 300 do ano anterior e, sei lá quantos, de outros anos... E não pude deixar de lhe enviar o Comunicado do ano passado, a que as entidades (in)competentes deste país nem sequer responderam e que tantos engulhos criou a alguns ambionautas (http://vento_norte.blogs.sapo.pt/tag/caparica).
Já agora, alguém me pode esclarecer se foi plantada uma única planta, ou semeada uma única semente, na Peneda-Soajo-Amarela-Gerês, depois dos incêndios do ano passado, que tantos altos dirigentes da nação lá levaram apenas para fazer turismo? E onde param as verbas da pseudo ecotaxa sobre os combustíveis, criada em 2004, para a reflorestação do país?
MA
O Jornal EXPRESSO, na sua edição de 24/02/2007, coloca o Ministro do Ambiente, Nunes Correia, entre os "baixos". Como aí se refere, "a provada incapacidade em conter o mar na Costa de Caparica e a denúncia de que, volvidos seis meses sobre os incêndios no Gerês, ainda não foi plantada qualquer árvore, não abonam a favor do Ministério do Ambiente. No Gerês, a culpa parece ser da falta de verbas do Parque Natural; na Costa, diz-se que há muito dinheiro deitado ao mar. Sugere-se uma troca de verbas".
Bem observado!
Agora compreende-se porque um Comunicado d' AFURNA, sobre o último incêndio no monte de Vilarinho, enviado por e-mail para o Gabinete do Ministro do Ambiente, em 2/09/2006, só foi lido em 19/10/2006:
"Your message
To: Gab Min Amb Ord Territ Desenv Regional
Subject: Fogos no Parque Nacional da Peneda-Gerês
Sent: Sat, 2 Sep 2006 23:50:34 +0100
was read on Thu, 19 Oct 2006 15:06:09 +0100"
sem que merecesse, até agora, qualquer resposta.
Parece que o "Simplex" (e não só) anda arredado do referido Ministério!...